Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
A questão da segurança em escolas, sejam elas públicas ou privadas, divide opiniões. Como preservar a integridade de alunos, professores e funcionários sem fechar as portas para a comunidade? O tema não divide apenas pensamentos e especialistas, mas, também, estatísticas. Na última segunda-feira, em horários diferentes da entrada e da saída de alunos, o Diário foi a 15 escolas de Santa Maria - cinco privadas, cinco estaduais e cinco municipais - para mostrar como os colégios se comportam quando pessoas desconhecidas tentam entrar.
Para isso, o critério da reportagem não era apenas ingressar no pátio, mas circular livremente pelos corredores. Quando perguntado, o repórter se identificou e explicou o motivo da visita. Das 15 escolas, o Diário teve acesso livre e irrestrito a seis delas. Por motivo de segurança, nenhuma será identificada. Das cinco instituições estaduais, o acesso às dependências foi registrado em quatro. Em apenas uma não foi possível entrar, já que o portão estava chaveado. Nas outras quatro, as portas abertas e a ausência de vigilância para saber quem entra ou sai dos prédios foram pontos em comum.
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O responsável peça 8ª Coordenadoria Regional de Educação, José Eggres, destaca que a orientação repassada às escolas estaduais é que os portões sejam chaveados após os horários de entrada e saída de alunos. Ele diz que vai reforçar a orientação junto às direções.
- A nossa orientação é que sempre uma pessoa seja designada para chavear o portão. Além disso, temos um trabalho interno e externo de prevenção, onde a polícia federal, a Brigada Militar e o conselho tutelar são parceiros - ressalta Eggres.
Nas escolas privadas, que devem prover a própria segurança, o acesso foi mais difícil. Apesar disso, a reportagem ingressou em duas. Em uma, havia porteiro, que não solicitou a identificação e apenas abriu o portão. Na outra, as portas estavam abertas e ninguém controlava o fluxo de pessoas.
- Me preocupa os dados relativos às escolas particulares, porque parece que não estão acompanhando os desafios na questão da segurança. Elas têm muito mais capacidade de resposta, na medida em que a própria comunidade cobra. Um sistema de roleta ou crachá pode, facilmente, resolver o problema - analisa o advogado, professor e pesquisador na área da segurança Eduardo Pazinato.
PORTÕES FECHADOS
Já na rede municipal, a realidade é diferente. Nenhuma das cinco instituições permitiu a entrada sem identificação. Em três, os portões estavam com cadeados e, em outras duas, havia a presença de guardas municipais nas portarias. A secretária de Educação, Lúcia Madruga, ressalta a atuação conjunta de professores, diretores e da Guarda Municipal, que é responsável por promover a segurança nas escolas administradas pelo município. Além disso, a criação do Programa Municipal de Práticas Restaurativas nas Escolas de Santa Maria, em 2017, ajuda a manter a paz dentro das instituições. O programa, de autoria da vereadora Luci Duarte (PDT), abrange atividades de pedagogia social, promoção da cultura da paz e do diálogo.
- Existe uma metodologia de trabalho para que, caso haja uma ocorrência, se reestabeleça a paz na escola. Quando se tratam de ocorrências externas, como a entrada de alguém não conhecido, nós temos uma linha direta com o setor de segurança. Além disso, temos a ronda escolar. Nós acionamos o setor e, de imediato, eles deslocam alguém para verificar o que está acontecendo - explica a secretária.
Pazinato frisa a importância do papel da Guarda Municipal.
- Esse protagonismo da Guarda Municipal de Santa Maria resulta em uma maior dificuldade de acesso, um maior zelo e controle - afirma Pazinato.
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Ele complementa, ainda, que não há como dimensionar o risco de manter portões abertos ou fechados nas escolas.
- A gente não tem histórico no Brasil de casos de assassinato em série em escolas públicas ou privadas como nos EUA. A priori, não temos uma iminente ameaça ou que as evidências apontem que essas ameaças irão romper o espaço da escola. A gente não consegue projetar fatos. Mas quando a escola não possui uma orientação clara de como se portar em relação a diversos atos de indisciplina ou não tem mecanismos para mediar conflitos que surgem a partir de problemas de relacionamento, ela acaba ficando mais suscetível ao cotidiano e a fenômenos sociais da própria convivência.
PAPEL SOCIAL É DETERMINANTE, DIZEM PROFESSORAS
Afinal, como garantir a segurança nas escolas sem afastá-las da comunidade? Com suas peculiaridades, não se pode pensar a segurança em instituições de ensino da mesma forma que se trata o policiamento ostensivo, por exemplo. Antes de tudo, as instituições precisam estar abertas, não somente para os alunos, mas também para as pessoas que as cercam. É o que sustenta a professora Ane Schumacher, coordenadora do curso de pedagogia diurno da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
- A questão da segurança nas escolas e sua relação com a comunidade é muito maior do que cercá-las, colocar guardas ou policiais. O que buscamos funda-se na necessidade de construirmos um projeto de sociedade que envolva as crianças, adolescentes e as famílias: toda comunidade onde a escola está inserida - comenta a professora.
Pensar no entorno e também no papel social que uma instituição de ensino promove em cada família é fundamental até mesmo para traçar medidas de segurança, como explica a presidente do Conselho Municipal de Educação, Luciane Schlottfeldt.
- A gente conhece a realidade de cada família e também da comunidade. É parte da nossa vida pensarmos nessa comunidade. Quando a gente vê que tem alguém de fora tentando entrar na escola, por exemplo, qualquer um de nós consegue identificar isso. É um trabalho comunitário - avalia Luciane.
Tamanha preocupação é para conseguir manter um ambiente saudável, onde todos consigam conviver pacificamente, como afirma a professora da UFSM.
- A escola é hoje um dos únicos espaços onde crianças, adolescentes e famílias conseguem se expressar. Por mais que seja garantida a segurança, a violência não irá diminuir. Se a segurança fosse o único quesito, por que nos Estados Unidos tem tanta violência nas escolas? - questiona Ane.